Monday, November 27, 2006

39. Os Imperdoáveis (Clint Eastwood, 1992)


“É uma coisa horrível matar um homem. Você tira tudo que ele tem e tudo que ele poderia ter.” William Munny sabe disso, mas não hesita em promover sozinho um massacre para livrar a cidadezinha de Big Whiskey, Wyoming, da violência. Esse paradoxo acompanha o filme inteiro. A história se passa em 1880, mas tem uma aura de fábula atemporal. O diretor consegue fazer com que o público perceba os acontecimentos como se deslocados do espaço-tempo, e entenda o filme como um comentário sobre a violência nos nossos dias. Os personagens são ambíguos: ninguém é inteiramente bom ou mau, mas todos têm alguma relação com a violência, pelo simples fato de que não tem como escapar dela. Na primeira cena, um cowboy corta o rosto de uma prostituta com uma faca. Na última, William Munny promove o inferno. Violência gera violência. O filme termina, mas isso não tem fim.

Monday, November 20, 2006

40. Alien, o Oitavo Passageiro (Ridley Scott, 1979)


“Seu grito não poderá ser ouvido no espaço.” A melhor frase já escrita em um cartaz de cinema resume a situação desesperadamente sem saída em que os sete tripulantes da nave-cargueiro Nostromo se metem quando recebem um certo visitante à bordo. Depois de causar uma indigestão fatal no personagem de John Hurt (sou só eu ou ele dá mesmo uma risadinha debochada depois que arrebenta a barriga do cara?), o alienígena vai eliminando, um a um, os nossos heróis. O filme é claramente uma alegoria sobre a exploração dos trabalhadores. Logo na primeira cena com diálogos, há uma discussão sobre salários. A “companhia” determina que o monstrinho seja trazido são e salvo para a Terra, enquanto a tripulação é considerada dispensável. E o próprio alienígena é um parasita que sobrevive às custas da classe operária. Pelo menos até tentar atacar a Sigourney Weaver de calcinha.

Monday, November 13, 2006

41. Cantando na Chuva (Gene Kelly e Stanley Donen, 1952)


“Esse é o único filme que eu tenho em casa. Assisto sempre que estou deprimido.”, diz o personagem de Woody Allen em Crimes e Pecados. Comigo é a mesmíssima coisa. Exceto, é claro, pelo fato de que eu tenho mais 228 filmes em casa. Mas Cantando na Chuva é especial. Não importa o quanto você esteja mal. 102 minutos depois, você é outra pessoa. Não tem Prozac ou livro de auto-ajuda que funcione melhor. Basta ver o inacreditável Donald O’Connor fazendo coisas fisicamente impossíveis enquanto canta “Make ‘Em Laugh”. Ou o trio principal começando o dia da melhor maneira possível com “Good Morning”. Ou Gene Kelly naquele numerozinho com um guarda-chuva. É cinema eufórico, de uma época em que euforia ainda não era contra a lei. Sobre o que é a história? Acredite: isso não tem a menor importância.

Wednesday, November 08, 2006

42. Laranja Mecânica (Stanley Kubrick, 1971)


Muito horrorshow. É o que o jovem Alex De Large diria desse filme que mostra as sadias aventuras dele e seus drugues, que saem durante a nochy para beber moloko, plucar uns carros, pegar umas devotchkas e praticar um pouco da velha ultra-violência. Apesar de não ser fiel em espírito ao livro de Anthony Burgess (Kubrick mostra uma visão mais política e menos sociológica da história), Laranja Mecânica, o filme, tem qualidades de sobra. A violência de Alex é fichinha perto da perpetrada pelo estado, que tenta privar o nosso herói da sua individualidade. O perfeccionismo do diretor garante que isso tudo seja mostrado com uma direção de arte impecável, uma fotografia rigorosa, e uma trilha sonora que vai da nona de Beethoven a Gene Kelly cantando na chuva. A constante ironia do filme atinge seu ápice quando nos vemos torcendo por um final feliz para Alex que, claro, acontece.