Monday, October 30, 2006

43. Kill Bill: Vol. 2 (Quentin Tarantino, 2004)


A Noiva (aka Black Mamba, aka Beatrix Kiddo) remove os últimos obstáculos para chegar até Bill na segunda e última parte da sua vingança sangrenta. Entre as referências a filmes de kung-fu e western-spaghetti, Tarantino traz seus personagens para um pouco mais perto da realidade. E acabamos vendo que a relação entre Kiddo e Bill é igualzinha à de muitos casais que se amam e se odeiam ao mesmo tempo. A única diferença é que eles foram educados na milenar arte do kung-fu pelo mestre Pai Mei e têm espadas de samurai fabricadas por Hattori Hanzo. O monólogo sobre o Super-Homem transforma David Carradine num grande ator. E numa determinada cena, Michael Madsen diz: “Essa mulher merece a sua vingança. E nós...merecemos morrer.” Quem é apaixonado por cinema, merece esse filme.

Friday, October 27, 2006

44. Sindicato de Ladrões (Elia Kazan, 1954)


No banco de trás de um táxi, Marlon Brando e Rod Steiger colocam tudo em pratos limpos. Terry Malloy, o ex-boxeador vivido por Brando, culpa o irmão Charlie (Steiger) por não ter tido uma carreira no pugilismo, por ter virado um “bum” ao invés de um “contender”. Charlie aceita a culpa em silêncio e logo depois se sacrifica para salvar a vida de Terry, como um pedido de desculpas. O sacrifício do irmão leva Terry a denunciar a corrupção no cais do porto. Décadas depois, numa cerimônia do Oscar, alguns convidados ficaram sentados e em silêncio na homenagem ao diretor Elia Kazan. Nunca perdoaram o diretor por ter denunciado colegas ao comitê de atividades anti-americanas durante o macarthismo. Nunca vão entender que o sentimento de culpa já é a pior das punições. Também nunca vão entender Sindicato de Ladrões.

Thursday, October 19, 2006

45. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Woody Allen, 1977)


“La-di-da”. Por que será que essa frase ficou tão famosa? Até usaram ela para nomear blogs. Pra mim, essa frase pode ter muitos sentidos, pelo menos em Annie Hall, o título original desse filme do Woody Allen. “La-di-da”, dita por Diane Keaton com aquele figurino levemente masculinizado da gravatinha, pode ser um marco da transição entre a mulher-bobinha e a mulher-independente dos anos 70. “La-di-da” também pode ser uma sutil dica de Woody Allen de que os relacionamentos amorosos não precisam das toneladas de complicações com que as pessoas “inteligentes” insistem em soterrá-los. Ou pode, também, no meio de tantos diálogos brilhantes, ser a frase mais memorável justamente por não significar nada. O que importa é que não tem como ver esse filme e não se reconhecer em algum momento. É uma comédia, mas dói. Veja num dia “la-di-da”.

Sunday, October 08, 2006

46. O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939)


Se por acaso eu estivesse sentindo falta de cérebro, coração ou coragem, pegaria a estrada de tijolos amarelos para encontrar o Mágico de Oz, que acabaria me convencendo que eu sempre tive tudo isso. Por exemplo: se eu não tivesse cérebro, não perceberia as qualidades artísticas do filme, muito menos seus significados psicanalíticos (sonhos que revelam nossos medos e desejos mais ocultos) e até políticos (bruxa boa do oeste, bruxa má do leste...). Se eu não tivesse coração, não me emocionaria com a Judy Garland cantando Over the Rainbow, ou quando ela admite para a tia Em que não há lugar como a nossa casa. E finalmente, se me faltasse coragem, não escreveria com todas as letras que O Mágico de Oz, uma produção para crianças, repleta de canções bobinhas e anõezinhos, é um dos melhores filmes de todos os tempos.

47. A Ponte do Rio Kwai (David Lean, 1957)


“Loucura”. Talvez nem fosse necessário que o filme encerrasse com essa palavra. Afinal, loucura é só o que se vê em quase três horas de projeção. O campo japonês de prisioneiros da 2ª Guerra Mundial serve de palco para um embate silencioso e insolúvel entre culturas diferentes, que não tem como acabar bem. Honra e orgulho marcam a relação entre o coronel japonês que comanda o campo e o coronel inglês que lidera os prisioneiros, quando estes são forçados a construir uma ponte de valor estratégico para seus captores. Mostrar a superioridade dos soldados e da engenharia britânica se torna então uma obsessão para o personagem vivido por Alec Guinness. Enquanto isso, o americano William Holden recebe a missão de botar tudo abaixo. A famosa e alegre marchinha que os soldados assobiam no filme alivia um pouco a sensação de que o mundo não tem jeito.

Tuesday, October 03, 2006

48. Blade Runner – O Caçador de Andróides (Ridley Scott, 1982)


Pegue todos os clichês dos film-noir do passado (a femme-fatale, os personagens sórdidos, a narração em off...) e leve-os para o futuro. Mais especificamente para uma Los Angeles de 2019, dominada por chineses e chuva ácida. Inspire-se numa história do gênio Philip K. Dick, onde seres criados pelo homem à sua imagem e semelhança rebelam-se contra o seu criador. Chame Indiana Jones/Han Solo para viver o papel principal, só que num tom mais amargo. Escreva um monólogo inesquecível para o ator holandês Rutger Hauer. Inclua na trama um policial cínico que adora fazer origamis. E as replicantes Sean Young e Daryl Hannah, tão perfeitas quanto a trilha sonora e a direção de arte. Use tudo isso para questionar a condição humana e o sentido da vida. E você vai ter o maior cult-movie de todos os tempos.

Sunday, October 01, 2006

49. O Resgate do Soldado Ryan (Steven Spielberg, 1998)


A primeira vez que eu vi, estranhei. Parecia que Spielberg tinha caído na armadilha fácil da patriotada. Depois comecei a perceber a crítica implícita que o diretor faz à perda de valores da América atual. As cenas que se passam no presente trazem uma certa amargura e a bandeira americana aparece esmaecida. Enquanto o filme mostra o sacrifício de soldados na última guerra justa, envolvidos em uma missão de altíssimo teor moral, fica a pergunta: “valeu a pena tudo isso para criarmos a América fria e corporativa de hoje em dia?”. Claro que isso é uma interpretação minha, e pode ser uma mera justificativa para poder elogiar essa aula de cinema, que mostra um dos maiores diretores americanos no auge da sua forma. Colocar a melhor cena de um filme logo no seu início não é incompetência, mas sim uma genial ousadia.

50. Quanto Mais Quente Melhor (Billy Wilder, 1959)


“Ninguém é perfeito”. A frase final mais famosa do cinema não se aplica ao diretor desse filme. Billy Wilder coloca Jack Lemmon e Tony Curtis dentro de vestidos para escapar de um gângster. E, como Daphne e Josephine, eles acabam entrando para uma orquestra de garotas, da qual faz parte uma tal de Marilyn Monroe. Perto de uma mulher como essa, é quase impossível manter o disfarce. A trama é uma desculpa para falar de um assunto seriíssimo: sexo (e todas as suas variações). E isso nos moralistas anos 50. Coisa de mestre: enquanto os censores vêem uma inocente comédia de erros, os espertos enxergam subversão atrás de subversão, na comédia que ajudou a abrir caminho para os liberais anos 60. Ajudada, é claro, pela caliente cena do tango entre Lemmon e seu pretendente Joe E. Brown. Sim, Billy Wilder é perfeito.

Antes do Top 50...

...vale esclarecer algumas coisas em relação à lista. Filmes lançados a partir de 2005 não entram, porque ainda não passaram por um teste do tempo razoável. Fora isso, a escolha se baseou única e exclusivamente na minha maneira de ver o cinema. Escolhi os filmes que mais me emocionam e me empolgam sempre que eu assisto, pelos motivos mais variados. Os textos vão entregar o final de vários filmes. Se você não quiser ficar sabendo como eles terminam, não leia. Além disso, não há nenhuma contra-indicação.

Obs.: os textos sobre esses filmes serão publicados de forma intercalada com textos sobre outros assuntos.

O filme da moda.

O Diabo Veste Prada é uma das melhores surpresas da temporada primavera-verão. Principalmente para quem não espera muita coisa. Chick-flick ao estilo clássico das comédias com Audrey Hepburn nos anos 50, o filme tem pelo menos uma coisa memorável: a atuação da Meryl Streep. Mas fora isso, ele é todo redondinho, sem nenhum exagero, quase plausível. Ano que vem todo mundo já esqueceu, mas enquanto tá na moda, vale dar uma conferida.